06 agosto 2011

Invisível para mim


Eu nunca conquistei, raramente apareci. Minha vida era assim, tão óbvia. Nem minha invisibilidade era notada. Não sei se a culpa era minha, ou se as pessoas eram ocupadas demais para pelo menos dar um oi, por educação. Era pura solidão, mas por incrível que pareça, tinha vantagens. Eu caia, as pessoas não olhavam, eu fazia o que quiser, minhas bizarrices, por exemplo, e ninguém notava. No fim do dia, eu ia para casa, meu pai com o jornal na mão na frente de seu rosto, nem movia os olhos com minha chegada. Minha mãe na cozinha, dizia:
- Boa noite, filho. Troque a roupa, tome um banho e venha jantar.
Sempre com essas mesmas palavras. Já meu irmão, pra mim era mais que um estranho, no qual eu poderia classificar meu pai. Era um ser de outro planeta, completamente diferente de mim. Mas peraí, eu que era o esquisito. Na verdade, ele era como todos do meu colégio, com as mesmas futilidades.
Passei, 16 anos assim, na mesma monotonia, na mesma solidão que não me preenchia, só me faltava algo. Faltava alguém para desabafar, alguém para rir de mim, para chorar, gritar, me amar. Alguém para descobrir o melhor que eu tinha. Não era drama, era a realidade.
Até que um dia, aconteceu algo diferente na minha vida. Tomei uma decisão: partir para outro lugar. Então entrei no banheiro, tomei os comprimidos do meu irmão (quase todos), fechei os olhos e acordei, mais notável do que nunca.
Meu pai, minha mãe, meu irmão, choravam por mim, desesperadamente. Deu-me um nó na garganta. Sim, um nó, eu ainda sentia algo! Uma ligação da escola dizendo que todos estavam completamente chocados, com o motivo da minha morte. E os alunos iriam ler uns textos em minha homenagem. Surpreendente, não?
Eu sempre soube que morreria sozinho, mas não com tantas lágrimas. Aquilo tudo passou como um flash na minha mente e naquele momento notei que era tarde demais para tentar. O mundo era tão grande, poderiam haver tantas possibilidades. Questiono-me até agora, se eu que me fazia de vitima para sugar algum sentimento na minha alma. Vivendo ou sobrevivendo? Eu pensava que sobrevivia. Eu sei, jovem e estúpido! Poderia ter aproveitado mais as pessoas, sem esperar reações. Agora sim, eu sei o quão eu era adorado e não sentia. A invisibilidade não estava aos olhos dos outros, e sim, em meus olhos. Se eu pudesse ter uma máquina do tempo, voltaria no dia em que nasci, no primeiro momento em que abri meus olhos e enxergaria o mundo diferente. Mas a única coisa que desejo agora, é para que a minha fatal invisibilidade seja preenchida, sem dor, sem mágoas, sem culpas.
''Desculpa mãe, pai, irmão e a todos que sentem minha falta. Se um dia tiver a oportunidade de viver com vocês novamente, não cometerei os mesmos erros, mesmo sem minha notável presença física, minha alma ainda esta aqui.''

Amo vocês!

2 comentários:

E aí, o que achou?