… Aquela voz ficara ecoando em
mim por muito tempo ainda. E não era qualquer voz. Não dizia qualquer coisa.
Era uma voz doce, porém agressiva e impetuosa. Algo que contaminaria minha
alma, pensamentos e mudaria de vez os meus dias tão vazios, até então. É o que
me fez reviver em uma intensidade única. Um desejo único de transformação. Eu
já não era mais a mesma.
Perdoem-me, caros leitores.
Comecei este texto sem me identificar. Fui falando apenas de algo, que está
penetrada em minha pele e olhar. Mas não me levem a mal, ou acreditem que tudo
faz parte de uma loucura. Eu faço analise, tenho trinta e um anos de idade de
momentos românticos, tortuosos, dignos, faceiros, onde eu era má e onde era
enganada. Já fiz amor, já transei com pessoas que nem sabia o nome. Já fiz
juras de amor eterno. Já desisti de amar umas trezentas vezes. Sou uma louca
sim, como qualquer outra mulher de minha idade, solteira, sem filhos, que mora
neste mundinho chamado Terra.
Meu nome, vocês devem estar se
perguntando, ou não. Nem sempre o nome é o mais importante (eu que o diga, sou
péssima com nomes). Então deixarei este dado como uma incógnita, falarei mais
do meu eu do que daquilo que só condiz para operador de telemarketing.
- Alô senhora
Fulana Sicrana da Silva, estamos com um projeto de vida ótimo para a senhora
estar vindo a adquirir.
Já disse a minha idade, algo que
geralmente muitas mulheres omitem. Todas querem ser sempre uma personagem da
Disney. Uma princesa linda, rica, magra, com cabelos lisos, inteligentes e com
um príncipe encantado. Hoje estou dando vale coração até para um sapo bom de
papo e divertido.
Deixa-me tentar falar de mim de
uma forma menos genérica. Eu tenho idéias ótimas, mas não sei onde expô-las.
Todos falam que eu sempre mereço algo melhor. Um amor melhor. Um cara mais
bonito. Uma pessoa mais inteligente. Um trabalho melhor. Tudo pra mim tem que
ser melhor. E eu fico querendo saber por que não posso feliz com pouco? Todos
querem muito pra mim. O supra-sumo de tudo.
A perfeição tem que conviver
comigo. Falam de minha beleza delicada e minha inteligência impar como motivos
para isso. Meus caros, se eu fosse tão linda e inteligente não estaria solteira
e com dificuldades em conseguir emprego.
É um mistério da vida. Eu sou a
pessoa mais elogiada que conheço e ninguém me quer. Mas eu não estou aqui para
desabafar, apesar já de ter feito isso aqui. Eu quero contar algumas coisas que
nunca contei a ninguém nessa ultima semana. Mas não tenho muitas novidades. Eu
não sou uma boa pessoa para falar de si mesma. Então vamos mudar de assunto, já
estou querendo cortar minha julgular com a faca de manteiga.
Eu sou uma pessoa que presta
muito atenção nas coisas inúteis da vida. Por exemplo, quando estou em algum
lugar público lotado, adoro parar e prestar atenção em algumas frases. Sim,
agora vocês terão certeza de meu destempero emocional. Eu sou colecionadora de
frases ditas por desconhecidos. Mas a vida é feita de frases. Tudo tem vozes do
nada. Gosto muito de reparar nisso.
As vozes não param. Falamos sem
parar. Até quando estamos sozinhos temos diálogos internos. Mesmo que sejam
pensamentos alheios a todo resto.
- Será que ainda
tem cerveja?
- Será que aquela gata do sexto andar estava
me dando bola?
- Que dor na barriga. Aquela p&*@#ra não
me fez bem.
- Onde eu coloquei o meu cartão de crédito?
- Que musica mais chata que esse vizinho
idiota está escutando.
- Mas onde mesmo que eu coloquei o cartão de
crédito?
Mas as frases que eu coleciono
são outras. Lembro de um dialogo de duas mulheres que até hoje eu morro de medo
de ter escutado isso. Uma falou para a outra “ela está envenenando todos os
dias o marido, uma hora ele morre”. Espero que eu tenha compreendido de forma
equivocada esta frase. Ou que minha
memória ou minha audição estejam me pregando peças.
Mas voltando a voz e a frase que
mudaram a minha vida. Vai parecer tolice, mas foi em uma canção. Desde jovem
escuto e tudo fez mudar minha concepção de vida. “Disciplina é liberdade”. Pois
é. E não é mesmo? Vai morar sozinho para você dar razão a isso.
Antes que eu me despeça, direi
meu nome. De verdade tenho vergonha. É Malfada. Era para ser Mafalda, mas o
carinha do cartório não deve entender de português. Até hoje zombam de mim
falando que eu sou uma fadinha muito da malvada. Talvez seja, ou não. Bem, até
a próxima.
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