06 fevereiro 2012

Conto: O diário de uma mulher de TPM!

… Aquela voz ficara ecoando em mim por muito tempo ainda. E não era qualquer voz. Não dizia qualquer coisa. Era uma voz doce, porém agressiva e impetuosa. Algo que contaminaria minha alma, pensamentos e mudaria de vez os meus dias tão vazios, até então. É o que me fez reviver em uma intensidade única. Um desejo único de transformação. Eu já não era mais a mesma.

Perdoem-me, caros leitores. Comecei este texto sem me identificar. Fui falando apenas de algo, que está penetrada em minha pele e olhar. Mas não me levem a mal, ou acreditem que tudo faz parte de uma loucura. Eu faço analise, tenho trinta e um anos de idade de momentos românticos, tortuosos, dignos, faceiros, onde eu era má e onde era enganada. Já fiz amor, já transei com pessoas que nem sabia o nome. Já fiz juras de amor eterno. Já desisti de amar umas trezentas vezes. Sou uma louca sim, como qualquer outra mulher de minha idade, solteira, sem filhos, que mora neste mundinho chamado Terra.

Meu nome, vocês devem estar se perguntando, ou não. Nem sempre o nome é o mais importante (eu que o diga, sou péssima com nomes). Então deixarei este dado como uma incógnita, falarei mais do meu eu do que daquilo que só condiz para operador de telemarketing.

                - Alô senhora Fulana Sicrana da Silva, estamos com um projeto de vida ótimo para a senhora estar vindo a adquirir.

Já disse a minha idade, algo que geralmente muitas mulheres omitem. Todas querem ser sempre uma personagem da Disney. Uma princesa linda, rica, magra, com cabelos lisos, inteligentes e com um príncipe encantado. Hoje estou dando vale coração até para um sapo bom de papo e divertido.

Deixa-me tentar falar de mim de uma forma menos genérica. Eu tenho idéias ótimas, mas não sei onde expô-las. Todos falam que eu sempre mereço algo melhor. Um amor melhor. Um cara mais bonito. Uma pessoa mais inteligente. Um trabalho melhor. Tudo pra mim tem que ser melhor. E eu fico querendo saber por que não posso feliz com pouco? Todos querem muito pra mim. O supra-sumo de tudo.   A perfeição tem que conviver comigo. Falam de minha beleza delicada e minha inteligência impar como motivos para isso. Meus caros, se eu fosse tão linda e inteligente não estaria solteira e com dificuldades em conseguir emprego.

É um mistério da vida. Eu sou a pessoa mais elogiada que conheço e ninguém me quer. Mas eu não estou aqui para desabafar, apesar já de ter feito isso aqui. Eu quero contar algumas coisas que nunca contei a ninguém nessa ultima semana. Mas não tenho muitas novidades. Eu não sou uma boa pessoa para falar de si mesma. Então vamos mudar de assunto, já estou querendo cortar minha julgular com a faca de manteiga.

Eu sou uma pessoa que presta muito atenção nas coisas inúteis da vida. Por exemplo, quando estou em algum lugar público lotado, adoro parar e prestar atenção em algumas frases. Sim, agora vocês terão certeza de meu destempero emocional. Eu sou colecionadora de frases ditas por desconhecidos. Mas a vida é feita de frases. Tudo tem vozes do nada. Gosto muito de reparar nisso.

As vozes não param. Falamos sem parar. Até quando estamos sozinhos temos diálogos internos. Mesmo que sejam pensamentos alheios a todo resto.

            - Será que ainda tem cerveja?
- Será que aquela gata do sexto andar estava me dando bola?
- Que dor na barriga. Aquela p&*@#ra não me fez bem.
- Onde eu coloquei o meu cartão de crédito?
- Que musica mais chata que esse vizinho idiota está escutando.
- Mas onde mesmo que eu coloquei o cartão de crédito?

Mas as frases que eu coleciono são outras. Lembro de um dialogo de duas mulheres que até hoje eu morro de medo de ter escutado isso. Uma falou para a outra “ela está envenenando todos os dias o marido, uma hora ele morre”. Espero que eu tenha compreendido de forma equivocada esta frase.  Ou que minha memória ou minha audição estejam me pregando peças.

Mas voltando a voz e a frase que mudaram a minha vida. Vai parecer tolice, mas foi em uma canção. Desde jovem escuto e tudo fez mudar minha concepção de vida. “Disciplina é liberdade”. Pois é. E não é mesmo? Vai morar sozinho para você dar razão a isso.

Antes que eu me despeça, direi meu nome. De verdade tenho vergonha. É Malfada. Era para ser Mafalda, mas o carinha do cartório não deve entender de português. Até hoje zombam de mim falando que eu sou uma fadinha muito da malvada. Talvez seja, ou não. Bem, até a próxima.


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